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Quando o sinal fecha

  • nataliarib
  • 12 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

São 30 segundos de impaciência para quem está dentro do carro. É preciso esperar, já que o semáforo na cor vermelha impede a passagem. Não importa se há pressa, atraso para um compromisso ou aflição em ver a sua mulher em trabalho de parto. A regra é uma só. Já para Gustavo Vinícius Bezerra dos Santos o sentimento é diferente. Ele é um dos milhares de meninos que esperam o momento para oferecer aos donos dos veículos a limpeza dos para-brisas.


É hora de correr de um lado para o outro e ofertar o serviço - o que faz há três anos no encontro da Rua Ernesto de Paula Santos com a Avenida Fernando Simões Barbosa, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. “Aqui é lugar nobre”, diz ao explicar porque escolheu o ponto para trabalhar. Ele pula de um semáforo para o outro. Quando um fica verde, vai para o sinal vizinho. “E também faço malabarismo”, comenta sobre a ajuda que dá a um primo, igualmente no sinal.


Com um sorriso no rosto e a aba do boné virada para trás - mas sem máscara para enfrentar a pandemia da Covid-19 -, ele se arrisca entre os veículos. Aponta ao motorista uma garrafa com água e sabão e o rodo que carrega. O ‘patrão’ então diz se aceita ou não o trabalho. Santos conta que recebe desde palavras de incentivo a ameaças. “Muita gente me discrimina, mas a vida é como uma roda gigante. Quando menos se espera ela gira e o cara tá lá em cima", fala olhando para o céu.


O tempo do sinal é curto, assim como a duração do seu ofício. Nos cinco minutos em que conversamos para esta entrevista ele deixou de ganhar dinheiro, mas não se importou e, feliz, mostrou a amizade que mantém com os clientes. Um deles chegou a buzinar ao vê-lo. Sem medo, o garoto coloca na calçada as moedas que consegue. A contribuição pelo serviço é espontânea. Em dias bons, segundo ele, pode chegar a R$ 70. O valor ajuda nas despesas de casa.


Gustavo dos Santos é o filho mais velho de Eliana. Pergunto a ele, quase que em tom de afirmação, se é um exemplo aos irmãos menores. Ele pensa diferente – e me surpreende com a resposta. “Não é bem um exemplo. É só uma coisa temporária. Final de janeiro saio do sinal e vou entrar no quartel. Estou ansioso para ver como será essa experiência".


Ele, que é um entre tantos meninos do sinal em Boa Viagem, sabe bem que a vida não é brincadeira. Desde criança aprendeu o valor do dinheiro e do trabalho para o sustento da família. Mas ele acredita que tudo pode mudar de rumo e, ao invés de esperar que o sinal se feche, agora quer que se abra. Ele sonha em correr de outra forma, longe da informalidade. “Me imagino jogador. Já tive chance de jogar no Criciúma (SC), mas perdi a oportunidade”. O recifense tem fé que ainda chegará ao ponto mais alto da roda gigante.

É com alegria, e sem pensar nas dificuldades, que Vinícius saúda os motoristas

Texto e foto: Natalia Ribeiro

 
 
 

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